Confira nossa análise completa dos aspectos que envolvem a produção de bovinos Wagyu no mercado brasileiro.
O trabalho “Utilização da Raça Wagyu no Brasil” realizado pela Areta Lúcia e Lechan Colares realiza uma revisão de literatura sobre o assunto, além disso é feita a análise SWOT sobre o tema. Abaixo pontuamos as Oportunidades, Ameaças, Pontos Fortes e Fracos que segundo os pesquisadores circundam a criação das Raças Wagyu no Brasil.
A análise SWOT tem como objetivo, elencar para o produtor rural o cenário interno da sua propriedade ( quais são os fatores que podem ser melhorados ou alterados por ele) chamados de pontos fortes (aspectos positivos) e os pontos fracos (aspectos negativos, que precisam ser revistos). Além disso, através da SWOT o produtor pode ter uma visão do ambiente externo, no que ameaça a sua produção e nos mercados favoráveis onde o mesmo poderá investir.
OPORTUNIDADES
- Vendas para um nicho de mercado especializado;
- Demanda maior do que a oferta;
- Crescimento nos cruzamentos com outras raças em especial (Angus e Nelore);
- Preço no mercado interno elevado por conta da exportação do gado;
- Venda de coprodutos como sêmen.
- Turismo rural como renda extra, já que o abate é mais tardio;
PONTOS FORTES
- Marmoreio elevado da carne do Wagyu;
- Valor nutricional agregado pelos ácidos graxos;
- Bom rendimento de carcaça;
- Preço elevado para a carcaça e para partes da mesma (contrafilé);
- Bons atributos de qualidade da carne, como textura, cor e firmeza.
- Vendas para um nicho de mercado especializado;
PONTOS FRACOS
- Abate tardio (28 a 30 meses ou mais);
- Volume de concentrado na alimentação por mais tempo do que animais bois taurus abatidos precocemente;
- Implantação da cultura na propriedade alta, podendo demorar a ter retorno nos primeiros anos;
- Necessidade de gestão forte, para controle dos custos de produção;
- Custo elevado de produção.
AMEAÇAS
- Pouca literatura sobre os conceitos e indicadores zootécnicos;
- Número pequeno de animais no país;
- Raça pouco divulgada e pouco conhecida por produtores e consumidores;
- Gargalos para se firmar no mercado por ser uma raça “nova” no Brasil.
- Outras raças de bois taurus podem produzir carne premium (mais baratas), precocemente abatidas e em maior número, embora não atendam o nicho de mercado tão sofisticado;
Ao falarmos da raça Wagyu, temos que ter em mente que estamos tratando de um produto gourmet, ou seja, diferenciado e único. Neste cenário o importante é o valor agregado e a experiência única do cliente. Não se trata de um produto que o lucro vem do volume de carne produzida, e sim da satisfação de um desejo do seu consumidor, em outras palavras, não é a quantidade que vai dar o lucro e sim a qualidade.
O consumidor de carne Wagyu, procura por um produto sofisticado e não se importa em pagar até 300% a mais do que pagaria em um corte de carne de outras raças (COLARES-SANTOS, 2020).
São alguns dos pontos fortes da raça Wagyu: Marmoreio elevado da carne. O Wagyu Black produz 30% a mais de gordura intramuscular do que as demais raças (GOTOH et al, 2014). Sabemos que o marmoreio é o diferencial neste tipo de produto, é está gordura que determina o nicho de mercado superior do Wagyu, pois a mesma proporciona sabor, aroma, suculência na carne. Variáveis que quanto mais marmoreio têm na carne mais sofisticada a mesma é. Além de a gordura intramuscular conter ômega 3 e 6 que são benéficos para a saúde.
Como alguns pontos fracos foram destacados: o abate tardio (quanto mais um lote de animais permanece na propriedade, mais custo ele dará), entretanto, para se ter um excelente grau de marmoreio requer um tempo demasiado na propriedade do que ficaria um animal de uma raça mais precoce como a Angus por exemplo. E aí novamente, chamamos a atenção para o que faz da raça Wagyu a carne mais sofisticada e cara do mundo, o marmoreio.
Como uma maneira de resolver ou amenizar essa situação, a procura por melhoramento genético que tem como intuito separar animais mais precoces, vem sendo utilizada como uma alternativa. Pensando nisso a ABCBRW muito em breve deve lançar seu sumário, fruto do Programa de Melhoramento Genético da Raças Wagyu, que ja vem sendo trabalhado.
Outro fator que causa grande preocupação nos produtores rurais, diz respeito aos insumos destinados a alimentação, sendo um deles o preço do milho. Fatores climáticos, exportação do produto são aspectos que influenciam na dificuldade de um planejamento a longo prazo para o pecuarista, mesmo com a aquisição do milho que vem da Argentina por muitos produtores e agroindústria, ainda sim há uma insegurança nos rumos da produção.
O adequado é pensar em alternativas a médio e longo prazo para a utilização de outros insumos e a busca por alianças mercadológicas. Buscar implantar o sistema lavoura-pecuária e floresta é uma alternativa utilizada por muitos pecuaristas, onde se busca a melhoria do solo em nutrientes e boas práticas, lembrando que, um bom solo e uma boa produção de pastagem podem diminuir custos com a alimentação, a produção de grãos e por fim a utilização de árvores para fornecimento de conforto térmico aos animais em época de calor.
Como gestão, a implantação da ILPF pode ser uma alternativa para longo prazo (dependendo da madeira plantada), pode funcionar como uma aliança mercadológica entre o produtor que cede a área para uma agroindústria de celulose e usufrui até o ponto de corte gerando sombra aos animais, e como uma alternativa de médio prazo, 2 anos, para colher grãos desde o preparo do solo a comercialização do excedente da produção.
O produtor que já possui as sacas de milho que necessita para o confinamento do seu gado e sobrou ele pode vender essa sobra para outro produtor regional. Da mesma forma que o produtor que utiliza outros insumos na alimentação do seu rebanho (resíduos de mandioca, arroz, sorgo) pode comercializar o excedente com o colega.
Seja essa comercialização através de um entreposto (pequeno local de armazenagem) ou pela criação de um aplicativo de celular para conectar o produtor que quer vender com o que quer comprar dentro de um espaço geográfico.
A união dos produtores de uma localidade para a compra de insumos pode ter como vantagem a geração de uma economia de escala (requerer descontos mais vantajosos por comprar em maiores quantidades), outra vantagem da união em pequenos grupos está na busca por empresas confiáveis e na busca por agroindústrias parceiras (se na região há uma agroindústria de mandioca, pode se comprar os resíduos a um preço mais acessível do que compraria no varejo, por ser diretamente tratado com o fornecedor), e até no poder de barganha destes produtores com o frigorífico, ou nas buscas por contratos diretos com o varejo de carnes, como ocorre no sistema de cooperativas de abate.
A produção de Wagyu, assim como as outras áreas do agronegócio a gestão se faz necessária, a contratação de mão-de-obra qualificada, busca por informações que vão além das técnicas e que englobam finanças, produção enxuta, logística e custos é diferencial na busca de mercados mais vantajosos.
Temos como oportunidades no ramo, a crescente busca por raças de alto valor agregado para a sua utilização em cruzamento industrial, onde o intuito é buscar flexibilidade de mercado e agregação de valor na carcaça. O Wangus (Wagyu x Angus) é um excelente exemplo da união da precocidade da raça Angus que é conhecido por ter excelente rendimento de carcaça com o marmoreio do Wagyu. No Brasil, a raça predominante é o Nelore, e vem crescendo espaço para o cruzamento industrial com a mesma, sendo um nicho de mercado a ser explorado.
O turismo rural pode ser uma alternativa de diversificação na propriedade, muitas pessoas têm a vontade de conhecer os meios de produção rural.
Como ameaça, destaco a falta de informações cientificas voltada para o meio de produção. Precisamos estudar mais o plantel Wagyu no Brasil, para auxiliar os produtores de maneira mais eficaz na redução de custos. Reduzir custos de produção só se faz através de otimização do fluxo de produção. Alinhar os meios de produção com uma genética exemplar voltada para a precocidade no marmoreio é peça fundamental para a competitividade.
Areta Lúcia da Silva
Tecnóloga em Agronegócio. Especialista em Administração da Produção e Logística e Especialista em Administração e Negócios.
O trabalho encontra-se publicado na Revista AnimaTerra da FATEC Mogi das Cruzes, n.11, ano V, p.16-30, 2° semestre, 2020.